Arquidiocese de Braga -

19 abril 2022

Bispos suíços querem esclarecer abusos sexuais do clero

Fotografia ALEXANDRA WEY/ EPA/ MAXPPP

DACS com La Croix International

Os bispos católicos da Suíça pediram a duas académicas para vasculharem os arquivos diocesanos como preparação para uma investigação independente sobre o abuso sexual de menores.

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Os bispos católicos da Suíça comprometeram-se a abrir os arquivos secretos de todas as seis dioceses para esclarecer os abusos sexuais perpetrados por padres.

Os líderes da Igreja fizeram o anúncio quase um ano depois de se comprometerem a realizar uma investigação.

“Muitos actos foram encobertos e as vítimas ignoradas”, admitiu o bispo Joseph Bonnemain de Chur, que é presidente da Comissão de Abuso na Conferência dos Bispos da Suíça (SBC). Falando numa conferência de imprensa, o bispo de 73 anos disse que o objectivo é “tornar a Igreja uma organização que aprende, pronta para reconhecer os seus próprios erros”.

O anúncio foi feito pela Conferência Central Católica Romana da Suíça (RKZ), responsável pela vida material da Igreja e pela Conferência das Uniões das Ordens Religiosas e Outras Comunidades de Vida Consagrada da Suíça (KOVOS).

 

Investigação universitária

Os bispos anunciaram que nomearam Monika Dommann e Marietta Meier, ambas professoras de história da Universidade de Zurique, para realizar uma investigação preliminar de um ano sobre os arquivos diocesanos.

A tarefa é “avaliar as condições gerais para um estudo histórico do abuso sexual no contexto eclesial desde meados do século XX e, assim, servir de base para outros projectos de investigação”. Também começarão a entrevistar as vítimas em Maio.

As duas académicas terão acesso total aos arquivos das dioceses e congregações religiosas, podendo trabalhar de maneira semelhante à realizada pela Comissão Independente sobre Abuso Sexual na Igreja (CIASE) em França.

Serão assistidas por um comité científico independente, nomeado pela Sociedade Histórica Suíça (SHH), presidido pelo historiador Sandro Guzzi-Heeb e composto por seis especialistas académicos, incluindo a canonista Astrid Kaptijn, da Universidade de Friburgo, que foi membro do CIASE.

 

“Esclarecer sem procurar proteger a sua própria reputação”

Por último, a Igreja está a disponibilizar um orçamento de 450 mil francos suíços (440 mil euros) para permitir que as investigadoras cumpram a sua missão.

“A Igreja está empenhada em iluminar sem procurar proteger a sua própria reputação”, insistiu Renata Asal-Steger, presidente do RKZ, durante a apresentação deste “projecto piloto”.

“É necessária uma reparação justa depois de estar à margem por tanto tempo”, disse Jacques Nuoffer, presidente do Grupo de Apoio a Pessoas Abusadas por uma Autoridade Religiosa (SAPEC).

“Dada a lamentável gestão dos abusos cometidos pelos bispos suíços de 1950 a 2011”, Nuoffer pediu a presença de especialistas da Suíça francófona.

 

Uma investigação por chegar

Vreni Peterer, membro do grupo de interesse de língua alemã para pessoas afectadas por abusos em contextos da Igreja (MikU), pediu aos bispos que finalmente assumam a responsabilidade institucional pelo abuso, em vez de o atribuirem a falhas pessoais dos indivíduos.

Várias pessoas presentes na conferência de imprensa reclamaram que o projecto não era suficientemente ambicioso. Observaram que, embora esta seja apenas uma fase preparatória para uma investigação real, os resultados não serão publicados até ao final de 2023.

O modelo CIASE foi mencionado várias vezes, mas os bispos suíços ainda não se comprometeram com ele.

O Bispo Bonnemain reconheceu as dificuldades, esperando que o inquérito preparatório possa avançar o mais rapidamente possível. Enfatizou que a iniciativa foi motivada pelo “dever de justiça para com todas as vítimas”.

 

Artigo de Christophe Henning, publicado por La Croix International a 7 de Abril de 2022.