Arquidiocese de Braga -

5 maio 2022

“Mana, o leite não sai!”

Fotografia Andreia Araújo

CMAB

Andreia Araújo, Equipa Missionária Salama!

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Diariamente recebemos, na Paróquia de Ocua, famílias com os seus bebés a pedir auxílio. Seja porque a mãe está doente e não tem leite, porque tem mastite e não consegue amamentar o seu bebé, teve gémeos e não consegue alimentar os dois ou a mãe faleceu no parto e a criança não tem como ser alimentada, são exemplos dos vários fatores que levam as famílias a procurar apoio na missão onde sabem que é distribuído leite de complemento.

Aqui começa a maior dificuldade do nosso projeto: as mães acreditam que o leite em lata, que nós entregamos, é melhor do que o seu próprio leite, e esta é uma crença que tentamos desconstruir diariamente. Este é o objetivo mais importante do projeto de apoio ao aleitamento: queremos que as crianças sejam bem alimentadas, sabemos que o melhor alimento que podem receber nos primeiros meses de vida é o leite materno, então lutamos para que as mães compreendam isso e acompanhamo-las para que possam voltar exclusivamente ao leite materno, se assim for possível.

Quando as famílias trazem um bebé para apresentar à missão, algumas vezes vêm acompanhados de uma carta do responsável da sua comunidade cristã a explicar a situação e porque estão a pedir apoio, outras vezes fazem-se acompanhar de uma carta do posto de saúde onde foram atendidas, a encaminhar para apoio de aleitamento na Paróquia. Em todas as situações, começamos por pedir o cartão do bebé, um cartão que é fornecido na altura do parto no hospital ou nos postos de saúde, onde é registada toda a informação da criança desde o seu nascimento, tal como peso, vacinação, idas ao posto de saúde, testes para possíveis infeções, etc. Nem sempre a família possui cartão do bebé, e nesses casos explicamos a necessidade de fazer o cartão da criança e cumprir as idas mensais ao posto de saúde. Analisamos a informação do cartão, tal como a data de nascimento e o peso da criança para perceber se o bebé se encontra bem alimentado, ao mesmo tempo que conversamos com a família para entender porque vieram pedir auxílio. Em todos os casos, acompanhamos os familiares e bebés ao posto de saúde da missão e pedimos a avaliação do enfermeiro. Nos casos em que realmente é necessário apoio com leite de complemento, procedemos à explicação de todo o processo de higienização do biberão e preparação do leite de complemento. Este é um ponto fulcral do projeto: não basta alimentar os bebés, é necessário formar no âmbito da higiene e amamentação também, para garantir que os bebés crescem saudáveis e as mamãs aprendem e praticam hábitos de higiene indispensáveis, para que possam continuar a amamentar adequadamente os bebés e possamos assim garantir que as crianças possam crescer com melhores condições de saúde.

Preparamos o leite com os pais ou familiares, dependendo quem está responsável pelo bebé, e damos o leite à criança, em conjunto, para que se possam esclarecer dúvidas e perceber bem como realizar todo o processo. A sensação que é poder assistir à toma do leite destes bebés, que chegam até nós cheios de fome, é algo indescritível. Mesmo sendo o biberão estranho para eles, a maioria adapta-se rapidamente, bebem o leite e logo adormecem.

O leite é entregue semanalmente, e em alguns casos, devido à distância, quinzenalmente. Quem vem buscar o leite vem a pé ou de bicicleta, as distâncias são grandes, e em época de chuvas há quem tenha de atravessar o rio para chegar à sede da Paróquia. Quando a família vem buscar o leite é quando avaliamos o bebé: o seu peso, se tem as vacinas em dia e, se for o caso, avaliamos a mamã. No caso de a mãe sofrer de mastite, acompanhamos ao posto de saúde, garantimos que é medicada e, se necessário, é feito curativo, e semanalmente acompanhamos a evolução, até que se consiga curar na totalidade e volte a conseguir amamentar a sua criança, o que para nós é um verdadeiro caso de sucesso. Temos muitos casos de mamãs que conseguiram recuperar e voltar exclusivamente ao leite materno.

Por fim, é importante referir que o projeto de aleitamento é apoiado pela Associação APARF, permitindo-nos entregar às famílias biberão e latas de leite.

Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 05 de maio de 2022.


Download de Ficheiros

IV_2022_05_05-net.pdf