Arquidiocese de Braga -

22 julho 2022

Comunidades indígenas do Canadá promovem "marcha pela cura" na viagem do Papa

Fotografia Conferência Episcopal do Canadá

DACS com Agência Ecclesia

A caminhada, em três etapas, vai unir indígenas e não-indígenas em volta do tema da cura, “tanto individual quanto colectivamente”.

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‘Puamun Meshkenu’, organização de indígenas do Québec, marcou uma “marcha pela cura” com representantes das Primeiras Nações de 275 km até à cidade de Québec, onde chegam a 27 de Julho. A organização da visita papal ao Canadá, que começa domingo, dia 24, saudou a iniciativa.

A organização ‘Puamun Meshkenu’ destaca que o objectivo é “mobilizar os membros das Primeiras Nações de todas as gerações em volta de uma actividade unificadora, focada na cura”. No site oficial da visita pode ler-se que “uma delegação falará no palco principal sobre a experiência e o objectivo comum de cura e reconciliação em solidariedade aos sobreviventes das escolas residenciais”.

A caminhada, em três etapas, vai unir indígenas e não-indígenas em volta do tema da cura, “tanto individual quanto colectivamente”.

Francisco é o segundo Papa a visitar o país, onde São João Paulo II esteve em três ocasiões: 1984, 1987 e 2022 (JMJ de Toronto). A Igreja Católica é a maior confissão religiosa do Canadá, representando 44% da população, com uma evangelização protagonizada sobretudo pelos Jesuítas, em particular junto das tribos Huron, no século XVII.

Uma das figuras históricas desse período é Kateri Tekakwitha (1656-1680), a primeira santa indígena da América do Norte, foi canonizada por Bento XVI a 21 de Outubro de 2012 e depois proclamada padroeira do meio ambiente, juntamente com São Francisco de Assis.

Em 2021 foram descobertas mais de um milhar de sepulturas anónimas junto de antigas escolas residenciais indígenas, com 751 sepulturas anónimas a serem descobertas perto de uma única escola em Saskatchewan. Várias destas instituições pertenciam à rede de escolas administrada pela Igreja Católica e eram destinadas à “re-educação” de crianças indígenas, com o apoio do governo canadiano.

Nos séculos XIX e XX, até aos anos 1990, mais de 150 mil crianças indígenas passaram por este sistema de 139 instituições pelo Canadá. Em alguns casos, as crianças eram forçadas a ir para colégios internos para serem assimiladas pela sociedade caucasiana do país.

No final de Setembro de 2021, a Conferência Episcopal do Canadá publicou um “pedido inequívoco de desculpas” aos povos indígenas do território.

Os bispos canadianos reconheceram “os graves abusos cometidos por alguns membros” da comunidade católica, abusos estes “físicos, psicológicos, emocionais, espirituais, culturais e sexuais”, para além de reconhecer “com tristeza, o trauma histórico e contínuo, bem como o legado de sofrimento e os desafios que perduram até hoje para os povos indígenas”.

A Igreja Católica no Canadá admitiu que o sistema implementado nestes internatos, nos séculos XIX e XX, “levou à supressão das línguas, cultura e espiritualidade autóctones, sem respeitar a rica história, tradições e sabedoria dos povos indígenas”, e assumiu o compromisso de promover uma arrecadação de fundos em todas as regiões do Canadá para apoiar “iniciativas assumidas localmente com os parceiros indígenas”.

Em 2015, após sete anos de investigação, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá divulgou um relatório sobre escolas residenciais, revelando que entre 1890 e 1996 mais de 3 mil crianças morreram por causa de doenças, fome, frio e outros motivos.