Arquidiocese de Braga -
21 setembro 2022
Como Roma está a preparar o seguimento do Sínodo sobre o futuro da Igreja
DACS com La Croix
Mais de vinte teólogos estão reunidos nesta quarta-feira, 21 de Setembro, em Frascati, perto de Roma, onde devem elaborar a síntese da consulta sobre o futuro da Igreja Católica realizada em todo o mundo nos últimos meses. Um exercício delicado, enquanto
Como continuar o Sínodo sobre o futuro da Igreja, cuja primeira fase acabou de terminar? É para responder a esta pergunta que 23 especialistas, teólogos de todo o mundo, estão reunidos em Frascati, a cerca de vinte quilómetros de Roma, a partir de 21 de Setembro. Objectivo destes dez dias de trabalho: examinar os relatórios enviados pelos bispos de todo o planeta sobre a consulta realizada pela Igreja no seu país. E fazer uma síntese.
Este trabalho de desenvolvimento do novo documento é delicado. Primeiro, porque os temas abordados pelos 110 documentos – de 114 Conferências Episcopais – enviados à Secretaria Geral do Sínodo são no mínimo variados.
Depois, porque o processo sinodal é acusado, em alguns países, de privilegiar os apelos à mudança defendidos por alguns (nomeadamente sobre o lugar dos leigos na Igreja, em particular das mulheres) e de não reflectir a verdadeira opinião dos católicos.
Finalmente, porque os milhões de católicos que participaram em todo o mundo nesta consulta estarão muito atentos ao documento elaborado em Frascati até 3 de Outubro.
“A ideia deste documento é que os bispos de cada continente se possam orientar, estando cientes dos problemas encontrados noutras partes do mundo”, explica um teólogo.
Para realizar este exercício tão delicado, cada documento nacional deve ser lido por vários teólogos. Depois irão elaborar a nova síntese em duas línguas, italiano e inglês. Um “processo espiritual, não apenas um resumo”, argumentam no Vaticano. Onde se admite que “é óbvio que o texto publicado não irá satisfazer a todos”.
Não é um “texto do Magistério”
O que irá advir então deste texto? Tornado público em meados de Outubro, será enviado a todas as Conferências Episcopais do mundo, que terão liberdade para reagir ao que contém. “As suas observações, positivas ou mais críticas, servirão para alimentar os encontros continentais”, explicam em Roma. Será especificado que se trata de um documento de trabalho, e não de um "texto do Magistério”.
A partir de Janeiro, cada continente estará livre para organizar as reuniões continentais como achar melhor. Com algumas condições, porém, impostas por Roma: essas assembleias devem durar pelo menos cinco dias, ser realizadas na presença de leigos e podem incluir um horário específico de reunião para os bispos.
As datas também foram marcadas para várias delas: os Europeus irão abrir os trabalhos em Praga a 5 de Fevereiro de 2023, os Africanos em Adis Abeba a 1 de Março e os Latino-Americanos em Bogotá a 20 de Março.
“O ímpeto do sínodo, de qualquer forma, decaiu”
Em França, a abertura da fase continental, cujos contornos organizacionais permanecem muito vagos, é nesta fase percebida com relativo distanciamento, tingido de preocupação.
“Podemos sentir-nos rapidamente distantes do que vai ser tratado em escala continental... Especialmente porque temos muito pouca experiência neste tipo de encontros com os nossos vizinhos europeus”, admite Anne Ferrand, virgem consagrada da diocese de Rodez et Vabres, pessoa de referência do Sínodo da Igreja local.
Um cenário que deixa muitos cépticos, pois as linhas de fractura – tanto em termos de sensibilidades episcopais, como de diferentes realidades eclesiais – estão marcadas entre determinados países.
“Acho muito difícil imaginar o que poderá concretamente sair desta sessão”, adverte um padre da região de Ile-de-France. Ele acredita que “o ímpeto do Sínodo, de qualquer forma, decaiu”, já que “grandes franjas de fiéis – jovens, sensibilidades mais clássicas... – não quiseram participar no processo, porque o método lhes não convinha, e então não se encontraram contemplados na síntese nacional francesa enviada a Roma”.
“Um bocado cedo demais” para falar
Questionados pelo La Croix, os membros da equipa nacional que acompanham o processo sinodal em França acreditam que ainda é “um bocado cedo” para falar sobre o assunto.
“Numa síntese, por definição, não podemos encontrar o que estava em cada um dos textos: quando olharmos para a síntese continental, veremos a lacuna que existe em relação ao nosso documento nacional”, reconhece D. Jean-Marc Eychenne, nomeado bispo de Grenoble-Vienne (Isère). “Mas é bonito: é a primeira vez na Igreja Católica que há um trabalho desta natureza, que realmente começa na base e que finalmente chega à Igreja universal”, concluiu.
Artigo de Loup Besmond de Senneville, publicado a 21 de Setembro de 2022 no La Croix.
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